22 de agosto

Há 3 meses e meio, vivi o dia mais incrível da minha vida e foi mais ou menos assim:

Dia 21 de Agosto – A véspera

A “data prevista” para o nascimento da Flora. O dia que eu completei as tão esperadas 40 semanas.
Passei o dia muito angustiada, com o coração apertado…
Chorei, chorei, chorei e escrevi esse texto: https://singularesperolas.wordpress.com/2013/08/21/21-de-agosto/

Um P.S.: No dia, eu não sabia bem o motivo dessa angústia (ou sabia… e estava cheia deles). Mas no fundo, acho mesmo que era o meu corpo se despedindo daquela gravidez… das últimas horas da Flora dentro de mim… dos meus últimos momentos comigo mesma, sozinha… mesmo que eu ainda não soubesse disso. Talvez meu corpo chorava prevendo todas as mudanças que estavam por vir, me preparando para muitos outros choros que ainda viriam.

Quatro da tarde.
Lembro de ser mais ou menos esse horário quando os sinais começaram a vir… uma ida ao banheiro, e lá estava: o tal do tampão mucoso. Ainda de leve, chegando devagar… Mas eu sabia!
Decidi não contar pra ninguém porque tudo o que eu não queria era criar expectativas (já eram tantas as expectativas criadas).
Mas a partir desse horário, todas as vezes que fui ao banheiro (e olha que foram muitas! grávida bebe um gole de água e faz xixi… rs!), o tampão me acompanhava. Cada vez mais presente.
E a minha certeza de que o momento estava chegando, só ia aumentando.

Sete da noite.
A noite chegou trazendo uma lua cheia no céu. Enorme. Linda.
Eu e Bruno decidimos, então, dar uma volta para admirar a lua. Fomos, os dois, em direção a ela…
Lembro de caminharmos bem devagar (a barriga já pesava muito) e de combinarmos de mentalizar coisas boas… pedi muito por um parto tranquilo e para a Flora vir com muita saúde, na hora dela.

Oito da noite.
Já em casa, começaram as contrações. Decidimos cronometrá-las. Estavam ritmadas e doloridas – uma dor suportável e prazerosa: sabia que minha Flora estava a caminho e isso me deixava radiante.
Me concentrei na respiração e nos bons pensamentos. Estava tudo ótimo. O mundo parou um pouco ali. Foi lindo.
Para aliviar as primeiras dores, tomei um banho quente, ganhei massagem do Bruno e ouvi muita música para acalmar.

Dia 22 de agosto.

O dia virou e nem percebemos. Passamos a madrugada em claro e às 2 da manhã, resolvemos ligar para o meu médico.
Como já tínhamos combinado, ele falou para aguentarmos o máximo possível em casa e assim fizemos. Até que às 4 da manhã, com contrações vindo a cada 4/5 minutos, liguei novamente e fomos nos encontrar na maternidade.
Lembro que na saída do meu prédio, com um sorriso no rosto, falei para o porteiro: “Tô indo ter a minha filha!”. Eu estava muito confiante, muito tranquila e muito feliz!

5 da manhã
Chegamos na maternidade, encontrei o meu médico e confirmamos: o trabalho de parto havia começado, eu estava com 3 cm de dilatação. Que alegria!
A partir daí, comecei a perder a noção da hora… Meu corpo estava ali, mas a cabeça estava em algum outro lugar…
Eu era a pessoa mais feliz do mundo.

Vimos o sol nascer da janela do quarto da maternidade. Estava nascendo um dia lindo.

Em algum momento, já com o sol no céu, as contrações começaram a ficar cada vez mais intensas, deixamos o quarto e fomos para a sala de parto. Sala de parto humanizado.
Sim, eu queria o parto mais humanizado possível, com o mínimo de intervenções possíveis. Queria que a natureza agisse.

Uma das primeiras coisas que fiz foi entrar na banheira com água morna. Foi muito gostoso ficar ali. Bruno colocou as músicas que tínhamos separado para tocar naquele momento e ali ficamos: eu e ele (ah! e em alguns momentos, a 2ª obstetra que ia lá para checar se tudo estava indo bem… Ela chegava, escutava o coração da Flora, ríamos, conversávamos e ela saía, deixando eu e Bruno a sós novamente, curtindo aquele momento). Foi uma delícia ficar ali, escutando aquelas músicas e me preparando para as horas seguintes.

Depois de 1 hora, decidi sair da banheira e foi hora de checar a dilatação: 4 cm. Confesso que não fiquei muito empolgada… Muitas horas passaram desde a chegada na maternidade e só tinha dilatado 1 cm.
Foi aí que a Cintia (fisioterapeuta obstétrica querida) me fez caminhar pelos corredores. Caminhamos, fizemos exercícios na bola, caminhamos mais, movimentei o corpo e o quadril. Tudo para a Flora encaixar e encurtar o trabalho de parto.

Mas depois de tudo isso, a dilatação não aumentou e foi nesse momento que o Dr. Paulo, meu médico queridíssimo, indicou a analgesia.
No meu parto ideal, essa parte não existia, mas eu sabia que ela traria conforto e ajudaria no trabalho de parto. E assim eu cedi.
Logo, as dores deram uma trégua e 1 hora depois, eu já estava com 6 cm de dilatação.
A bolsa rompeu e a partir dali, as contrações vieram com tudo!

Em pouco tempo, eu já estava com 8 para 9 cm de dilatação! Só faltava mais UM!
Foi nessa hora que comecei a fazer força. Não, ninguém pediu para eu fazê-la; eu, simplesmente, fiz. Natureza. Instinto. (Lindo).
E aí, começou a dor de verdade. Flora não estava na posição correta e não estava encaixada.
A cada força que eu fazia, meu médico girava a cabeça dela por dentro pra ela poder ficar na posição certa.

Um P.S.: São poucos os motivos para se fazer uma cesariana. Fico MUITO feliz de ter escolhido o médico certo que não desistiu do meu parto em nenhum segundo das 12 horas que ficamos ali. Aliás, o meu plano de parto era o dele também. Ele é tão a favor do parto normal quanto eu. Isso era o mais importante. Fora que já ouvi muito: “não consegui parto normal porque meu filho não estava encaixado.” Pois é, nem o meu…. nem o meu.

Mas a cada girada que meu médico dava, eu ia à lua e voltava.
Gente do céu! Eu estava ótima até então… Mas essa manobra somada ao período expulsivo foi punk!
Essa da Flora não estar encaixada não estava nos planos (que planos? rs!) e, por isso, meu período expulsivo foi longo…

Só lembro de pedir pra ele parar de rodar a cabeça dela (sim, eu sabia que ele não podia parar, mas eu pedia mesmo assim! rs!) e de ouví-lo falar a cada 5 minutos: “Vamos, Larissa! Eu já estou vendo o cabelinho dela!”.
Mas acontece que ele já estava vendo o cabelinho dela há 1 hora!!! E ela não saía… Foi aí que dei meu único berro do trabalho de parto inteiro. E foi aí que ela nasceu.

*Pausa para um suspiro*

Eu fiquei em choque. Radiante. Mas em choque.
Eu tinha planejado falar algumas coisas pra ela naquele momento (planos de novo?! faça-me rir!) mas eu não conseguia dizer uma única sílaba. Nem eu, nem Bruno. Emudecemos. O amor nos tomou o ar.

Segurei minha filha nos braços por alguns minutos enquanto os outros procedimentos eram feitos comigo.
Depois, subimos para o quarto e encontramos nossa família, agora com 1 membro a mais.

Naquele quarto, vivi os dias mais incríveis da minha vida.
Ali, eu e Bruno aprendemos em 2 noites o que não havíamos aprendido em 7 anos.
E desde então, continuamos aprendendo.
“E desde então, sou porque tu és.
E desde então és, sou e somos.
E por amor, serei, serás, seremos.”.

—–

Tive um parto lindo. Longo. E lindo. Dolorido. E lindo. Com alguns contratempos. E lindo.
Eu não poderia ter sido mais feliz.
Me tornei mãe. Me tornei mais forte. Mais confiante. Mais plena. Me tornei mais feliz.
Nas quase 20 horas de trabalho de parto, tive a presença constante do amor da minha vida, que não soltou a minha mão em nenhum segundo e que compartilhou comigo todas as dores e amores. Tive o suporte de uma equipe médica incrível, principlamente do meu obstetra que respeitou todas as minhas escolhas e estava comprometido com tudo do começo ao fim. Tive a ajuda de uma fisioterapeuta obstétrica querida e da minha mente focada. 80% é cabeça, dizia ela.
Flora nasceu na tarde do dia 22 de agosto e nessa mesma tarde, eu vivi a experiência mais intensa e mais bonita da minha vida.
Muito obrigada, filha. Eu te amo.
<3